O Tribunal de Madrid aceitou apenas parte de um recurso movido pelo Ministério Público e acabou por endossar que o juiz Juan Carlos Peinado continue a investigar as ações de Begoña Gómez, mulher do primeiro-ministro Pedro Sánchez, alvo de acusações de tráfico de influência.
Segundo o jornal El Mundo, a corte se reuniu a portas fechadas ontem e deu parcial provimento apenas ao recurso relativo ao segredo de justiça. Mas, ao mesmo tempo, referendou que o magistrado pode iniciar uma investigação “realizando as diligências que se considere necessárias nos termos estabelecidos”.
A investigação contra Begoña Gómez foi aberta após uma denúncia de um coletivo chamado Manos Limpias (Mãos Limpas), ligado às forças da direita espanhola, baseada em artigos da imprensa. Segundo o site El Confidencial, ela teria oferecido sua influência pessoal de recomendação na adjudicação de contratos públicos a favor de algumas empresas.
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Segundo o El Mundo, a investigação deve se concentrar no suposto auxílio recebido pela joint venture de Juan Carlos Barrabés, a Innove Next. Segundo a denúncia, como codiretora de mestrado da Universidade Complutense, de Transformação Social Competitiva, Begoña Gómez assinou duas cartas de apoio à Innova Next em dois concursos da entidade pública Red.es.
Os magistrados descreveram como “fato notório” que Gómez é esposa do presidente do governo e “do exposto pode-se deduzir que há indícios sobre a suposta prática de um ato criminoso”.
O Ministério Público havia entrado com recurso para tentar encerrar a investigação em vão, mas o Tribunal entendeu que essa “intenção (…) de impedir qualquer investigação sob a capa de uma interpretação típica (…) é incomum e poderia levar à criação de brechas de impunidade em toda atividade criminosa”.
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“Lama, lama, lama”
O caso virou um bate-boca hoje na sessão do Congresso dos Deputados. Alberto Nuñez Feijóo, líder do PP, partido de oposição a Pedro Sánchez disse ao primeiro-ministro que ele “sabia de tudo e encobriu” e que o caso de corrupção afeta o governo.
Sánchez respondeu: “Lama, lama e mais lama. Campanha eleitoral da extrema-direita”. Ele ainda acusou Feijóo de estar ao lado do líder do partido de extrema-direita Vox, Santiago Abascal, que tem demonstrado apoio às mortes de civis por Israel em Gaza “Este é um governo livre e nenhuma lama vai cobrir o que a extrema direita pretende”.
“Não use mais desculpas, não use os argentinos, não use a causa nobre do povo palestino, não use a situação em Israel, não use para evitar dar explicações. A Moncloa [sede do governo espanhol] é investigada por corrupção. Acabem com isso porque não podemos continuar assim”, retrucou Feijóo.
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Segundo o El Mundo, o presidente não deu nenhuma explicação sobre a investigação envolvendo sua esposa e lamentou a atitude do rival, a quem recriminou por “continuar a espirrar na lama” e garantiu: “Vamos continuar a governar”.
“Puseram a máquina de lama em movimento para esconder os sucessos do país; para cobrir seus governos com vergonha com o Vox e eles também fazem isso para me quebrar com sua lama, mas eles estão prontos. No dia 9 de junho, eles perderão as eleições novamente.”
A citação de Feijóo à Argentina foi feita em referência à crise diplomática gerada há pouco dias, quando o presidente argentino Javier Milei, se referiu a Begoña como “corrupta” num discurso em evento do Vox em Madri. A Espanha chamou de volta sua embaixadora em Buenos Aires e exigiu um pedido de desculpas. O governo argentino se negou a fazer qualquer recuo.