Em meio à pressão do mercado para que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indique que começará, efetivamente, a cortar gastos, em vez de tentar cumprir o arcabouço fiscal apenas aumentando receitas, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), afirmou que apresentará “um cardápio de possibilidades” ao presidente da República e garantiu que é possível reduzir despesas sem comprometer os investimentos sociais.
Segundo Tebet, as pastas do Planejamento e da Fazenda já vinham trabalhando em torno dessas medidas e, a partir de agora, isso será intensificado.
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“Ao invés de a equipe se reunir duas vezes por semana, é para se reunir todos os dias, duas horas por dia, e já no final de junho apresentar um cardápio com possibilidades”, disse Tebet, em entrevista ao jornal O Globo.
“Tudo está na mesa, nada está interditado, a não ser a valorização do salário mínimo e a desvinculação da aposentadoria. Quando a gente fala de desvinculação, a gente não fala da aposentadoria, mas dos outros benefícios temporários”, explicou a ministra.
“A lei fala BPC [Benefício de Prestação Continuada], abono salarial, seguro-desemprego, auxílio doença… Vamos ver como a gente pode modernizar. Eu tenho ‘N’ possibilidades, eu tenho uma avenida. Essa avenida pode virar uma rua mais estreita sob a ótica da vontade política, mas, mesmo assim, é uma rua onde vai poder passar muita coisa”, assegurou Tebet.
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Questionada sobre quais gastos teriam de ser revistos pelo governo, a ministra disse que “tudo, a princípio, está na mesa”. “Vamos limpar, sob a ótica do que é viável politicamente, o que atenderia a vontade não só do presidente Lula, mas também do Congresso Nacional. Esse filtro a gente ainda não fez. Se eu ficar muito focada na desvinculação, dá a entender que é a primeira medida, e não é”, afirmou. “O mercado e o Congresso dão sinais de que não há mais condições de ajuste fiscal pelo aumento da receita.”
Haddad “forte”
Durante a entrevista, Simone Tebet também falou sobre as especulações a respeito de um possível enfraquecimento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).
Os rumores acerca de uma suposta “fritura” de Haddad se intensificaram nas últimas semanas e causaram forte preocupação no mercado, afetando a cotação do dólar e a Bolsa de Valores. Segundo Tebet, Haddad segue firme no comando da equipe econômica.
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“A relação do Haddad é tão forte, pessoal, com o presidente Lula, que não vai ser uma questão que vai abalar essa credibilidade. O presidente Lula sabe que praticamente a única coisa que deu quase que 100% certo no ano de 2023 foi a pauta econômica do governo”, apontou.
A ministra do Planejamento reconheceu que a prioridade de Lula é investir nas áreas sociais, mas destacou que o presidente sabe da necessidade de o governo ser fiscalmente responsável, garantindo o equilíbrio das contas públicas e a sustentabilidade do arcabouço.
“Não podemos querer do presidente um discurso que ele não tem. O foco do presidente sempre foi o social. E ele deixa para equipe econômica dizer que, para ter social, tem que ter equilíbrio fiscal. Então, é da essência do presidente Lula. Todo mundo sabe que é assim. Mas, ao mesmo tempo, nos bastidores, ele não interdita o debate”, disse Tebet.
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“O presidente fala: protejam os pobres. Ele é corajoso o suficiente para enfrentar o poderio econômico, isso ninguém discute. Nós vamos mostrar para o presidente que é possível cortar gastos de privilégios. Não estou dizendo que vamos conseguir avançar com os supersalários, mas tem que estar na mesa. Uma legislação previdenciária que, ainda que de forma gradual, atinja os militares”, concluiu.