Depois de oscilarem em baixa durante a maior parte do dia, as taxas dos DIs fecharam a sexta-feira em alta após o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmar que as expectativas de inflação têm sido uma “má notícia” e alertar para os possíveis impactos da tragédia no Rio Grande do Sul sobre a inflação.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 estava em 10,41%, ante 10,39% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 10,845%, ante 10,756% do ajuste anterior.
A taxa para janeiro de 2027 estava em 11,15%, ante 11,079%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,41%, ante 11,356%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 11,75%, ante 11,727%.
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Na quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia estressado a curva a termo ao qualificar a meta de inflação de 3% como “ousada para o histórico do Brasil”. O receio de que o Conselho Monetário Nacional (CMN) — responsável pela definição da meta — possa alterá-la impulsionou as taxas dos DIs naquele dia, mas parte desta alta foi revertida na sessão de quinta-feira.
Nesta sexta-feira houve continuidade deste movimento de acomodação durante a maior parte do dia, com as taxas voltando a ceder.
“O mercado manteve a tendência de ontem, de tirar o prêmio no (DI) longo e deixar o curto no zero a zero”, comentou Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, no início da tarde. “De qualquer forma, isso ocorre com ajuda do cenário externo, com o T10 (Treasury de dez anos) caindo”, acrescentou.
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Perto das 14h, contudo, quando Campos Neto começou a falar em evento da Fundação Getulio Vargas, o cenário começou a mudar.
O presidente do BC afirmou que as expectativas de inflação têm sido uma má notícia e alertou que a inflação pode aumentar em função da alta de preços dos alimentos, causada pelas enchentes no Rio Grande do Sul e por outros fatores.
O mais recente boletim Focus do BC mostra que o mercado está vendo uma inflação de 3,74% em 2025, projeção que piorou nas últimas semanas. A meta de inflação é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
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Segundo Campos Neto, o cenário fiscal, o ambiente externo e a credibilidade do BC podem explicar a desancoragem de expectativas, além de uma possível piora na percepção sobre o Brasil.
“Mais recentemente, a gente viu que as curvas longas (de juros) norte-americanas voltaram e a taxa terminal até voltou um pouco, mas o Brasil não melhorou quase nada. Então parece que nesse movimento a gente ficou um pouco na contramão do mundo emergente, o que sugere que se adicionou prêmio (de risco) específico de Brasil na curva”, afirmou Campos Neto no evento da FGV.
Como o mercado já estava, nos últimos dias, sensível aos debates sobre expectativas e metas de inflação, a fala de Campos Neto serviu de pretexto para as taxas dos DIs migrarem para o território positivo. O movimento foi mais intenso entre as taxas dos contratos para janeiro de 2026 e janeiro de 2027 — dois dos mais líquidos. Também houve uma intensificação das apostas de que o Banco Central não cortará a taxa básica Selic em junho.
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Perto do fechamento a precificação da curva a termo indicava 85% de chances de manutenção da Selic em 10,50% ao ano em junho, contra 15% de probabilidade de corte de 25 pontos-base. À tarde, antes do efeito provocado por Campos Neto, a precificação estava em 76% e 24%, respectivamente.
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No geral, a semana foi negativa para o Brasil. A taxa do DI para janeiro de 2027, por exemplo, acumulou alta de 15 pontos-base no período (taxa de 11,15% no fim desta sexta-feira), mas o resultado está longe de traduzir as oscilações vistas nos últimos dias. Na quarta-feira, com a pressão trazida pelas declarações de Haddad, a taxa do janeiro 2027 marcou o pico de 11,165% durante o dia.
Nos EUA, durante a tarde desta sexta-feira os yields dos títulos norte-americanos de curto prazo sustentavam leves altas, enquanto os de 10 anos e 30 anos registravam baixas modestas, com investidores se preparando para o fim de semana prolongado em função do feriado do Memorial Day na segunda-feira.
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Às 16h46, o rendimento do Treasury de dez anos — referência global para decisões de investimento — caía 1 ponto-base, a 4,467%.