A inteligência artificial vem atravessando o mercado de trabalho global “como um tsunami”, na avaliação de Kristalina Georgieva, diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Segundo ela, é provável que a inteligência artificial afete 60% dos empregos nas economias avançadas e 40% dos empregos em todo o mundo nos próximos dois anos, disse a diretora do FMI em evento neste mês em Zurique. “Temos muito pouco tempo para preparar as pessoas e as empresas para isso”, afirmou a diretora.
Líderes de todo o mundo têm preocupação sobre a falta de mão de obra, ao mesmo tempo em que correm contra o relógio para aborver o melhor da tecnologia em seus processos. Dados do “Estudo de Tendências de Talentos Globais 2024”, da consultoria global Mercer, mostram isso.
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Três em cada cinco (58%) executivos acreditam que a inteligência artificial está avançando mais rápido do que suas empresas podem capacitar os trabalhadores; e menos da metade (47%) acredita que podem atender à demanda deste ano com seu modelo de talentos atual. A pesquisa foi realizada a partir das respostas de 845 executivos e 9,4 mil trabalhadores de 17 países, incluindo o Brasil, no ano passado.
O estudo também mostra que o rápido crescimento nas capacidades da IA generativa no último ano gerou expectativa sobre o aumento da produtividade da força de trabalho, com 40% dos executivos prevendo que a IA proporcionará ganhos de mais de 30% em seus negócios.
Porém, entre os muitos desafios, o principal: os próprios executivos não acreditam que já possuem uma equipe capaz de usar a IA para aumentar a produtividade. Mais especificamente, três em cada quatro executivos (75%) entrevistados estão preocupados com a capacidade de seus talentos se adaptarem (contra 61% na edição de 2020, com dados de 2019).
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Muitos profissionais lidam com a inteligência artificial com insegurança, afinal as projeções indicam muitas transformações. “É um dilema que passa pela transformação da relação com o trabalho: o que é um emprego? O que é uma carreira? O que deve mudar com a IA no meu dia a dia? E é verdade que se os avanços tecnológicos transformam a organização, podemos esperar que algumas atividades desapareçam para que outras surjam no lugar. E todos teremos que nos adaptar”, avalia Marisabel Ribeiro, diretora de estratégia de talentos na Mercer, em entrevista exclusiva ao InfoMoney.
Ao contrário do que muitos podem pensar, o estudo aponta que a solução para utilizar a IA a favor do aumento da produtividade é promover um ambiente de trabalho focado no ser humano. “Precisamos impulsionar a produtividade focando o trabalho no ser humano porque a tomada de decisão estará em nossas mãos”, avalia a especialista da Mercer.
Leonardo Berto, gerente da consultoria de carreira Robert Half, acrescenta que é natural que haja o medo do desconhecido, o que pode desincentivar alguns profissionais, mas alerta: “por mais que a velocidade de transformação só aumente daqui para frente, é consenso que não tem o que fazer pra voltar atrás. As pessoas ainda não estão preparadas, mas quem se preparar vai ter vantagens competitivas. Operar IA exige capacidade humana justamente porque vai demandar decisões, análise de cenários com variáveis que a IA nem sempre prevê pelo modelo matemático, por exemplo”, defende o especialista.
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Habilidades necessárias
Guilherme Portugal, diretor de transformação da gestão de pessoas da Mercer, destaca algumas das habilidades requeridas pelos líderes nessa transição para pensar em soluções com inteligência artificial.
“IA e suas derivações são novas. O profissional precisa manter essa curiosidade de manter um ritmo de aprendizado para poder empregar os conhecimentos na sua área de trabalho. Esse é outro ponto: entender como a tecnologia pode ajudar na sua função e trabalhar essa visão de forma transversal sobre o que estamos fazendo”, orienta.
E um terceiro destaque é o raciocínio analítico sobre tudo o que fazemos. “Você vai fazer uma pergunta para a IA, mas cabe a você olhar o que encontrou e analisar: faz sentido? É verdadeiro? Está bem colocado? É isso que nos diferencia”, avalia Portugal.
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Veja as habilidades citadas por Guilherme Portugal:
- Curiosidade;
- Pensamento lógico com aplicação de tecnologia;
- Raciocínio analítico (crítico);
- Relacionamento interpessoal;
- Flexibilidade;
- Educação continuada.
“A demanda por qualificação com inteligência artificial vai vir e o que vai distanciar um profissional do aprendizado é a educação continuada. A busca por qualificação e domínio precisa ser constante. Se eu uso um prompt para dar um comando, mas não tenho domínio do negócio (e vice-e-versa), a IA só será mais uma das ferramentas mal utilizadas na empresa, como já acontece com muitas outras”, complementa Berto, da Robert Half.
Ribeiro, da Mercer, diz que o conceito da educação continuada pode parecer complexo, mas destaca o período de pandemia como um catalisador desse método. “A gente entendeu que dá pra aprender em vários ambientes. A pandemia acelerou esse processo de forma forçada, mas provou que é possível trabalhar de casa e ainda assim ter uma boa performance. Construímos novas rotinas, aprendizados de outras fontes. Precisamos manter esse exercício nessa rotina pós-pandêmica”.
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Relação de confiança é crucial
Outro destaque da pesquisa é que a confiança do colaborador em seu empregador, construída na pandemia, está em corrosão: houve queda de 85% em 2022 para 74% em 2024 em meio ao “boom” da inteligência artificial.
“Tem uma responsabilidade da empresa em desenvolver as lideranças para esse novo ambiente, ainda em descoberta, de menos controle e mais inovação. Pensar em espaços para que o colaborador possa prosperar por meio de benefícios e engajamento”, afirma Portugal.
A remuneração justa (34%) e as oportunidades de desenvolvimento (28%) são dois fatores-chave para a intenção dos trabalhadores de permanecerem na empresa este ano. “Os empregadores têm incentivos para avançar mais rapidamente na equidade salarial, transparência e acesso equitativo às oportunidades de carreira no próximo ano”, avalia o diretor da Mercer.
Em complemento, Berto, da Robert Half, afirma que a liderança tem papel estratégico no sucesso da implementação da inteligência artificial e manter o elo de confiança com os colaboradores é necessário.
“É a liderança que traz a visão estratégica de como a IA pode entrar no negócio e quais caminhos seguir a partir de agora, o que inclui como direcionar sua força de trabalho em prol de aumento da produtividade e inovações rentáveis. O líder deve seguir a tríade: comunicar, orientar e direcionar o colaborador”, avalia o gerente.
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