Em meio aos aumentos de preços do arroz e do trigo e últimos resultados trimestrais, o Bank of America (BofA) recomenda manter a cautela em relação aos papéis de M. Dias Branco (MDIA3) e Camil (CAML3).
“As empresas geralmente tentam repassar o aumento de custos, mas a história nos mostra que é necessário monitorar outras variáveis como: 1) troca e substituição de produtos pelos consumidores; 2) aumento da concorrência e 3) potencial impacto negativo nas margens”, comentam analistas.
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Os preços do arroz no Brasil subiram cerca de 50% desde meados de 2023 para mais de R$ 115 a saca, devido a menor produção no Brasil. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2023/24 pode totalizar 10,5 milhões, uma queda de cerca de 1 milhão de toneladas em relação às safras regulares, e esse número pode ser ainda menor, considerando as inundações no estado do Rio Grande do Sul em maio, que responde por 67% da produção do país.
Nesse contexto, o BofA vê espaço limitado para a produção se recuperar significativamente na próxima safra, pois as condições do solo podem ter se deteriorado significativamente devido às inundações, o que pode pressionar os rendimentos.
Além disso, o plantio pode ser limitado por perdas de máquinas, acesso a crédito e alocação de capital. Nesse cenário, os preços devem permanecer em níveis elevados nos próximos doze meses, na opinião do banco.
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O BofA explica que a Camil tem um negócio de repasse de custos, e, portanto, geralmente aumenta os preços à medida que o custo do arroz sobe. Até agora, segundo o banco, a Camil conseguir repassar os preços mais altos do arroz, com os preços dos produtos de alta rotatividade subindo 25% ano a ano.
Por outro lado, dadas as inundações no estado do Rio Grande do Sul no último mês, há uma preocupação adicional com as perdas da safra atual e as condições do solo nas próximas safras. Nesse cenário, os preços do arroz devem permanecer em níveis elevados nos próximos trimestres.
Apesar do forte momento, o BofA reitera classificação de venda (underperform, recomendação equivalente à venda) e elevou o preço-alvo de R$ 8,30 para R$ 10 para Camil, à medida que eleva estimativa de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) em 4% e 5% para 2025 e 2026, devido aos preços mais altos do arroz e suposição de margem. No entanto, enxerga desafios relacionados à expansão do negócio de café, e acredita que o momento está precificado.
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Já os preços do trigo subiram 20% nos últimos três meses , devido a preocupações renovadas com restrições de oferta na Rússia e na Ucrânia (14% da produção global / 31% do comércio global), e iminentes exportações indianas. A curva futura aponta para preços acima de US$ 7,0 por saca nos próximos doze meses, o que combinado com um real mais fraco (8% depreciação no acumulado do ano), deve levar a custos mais altos para a M. Dias até o final de 2024 (supondo que tenham estoques de trigo até 3T24).
Diante disso, o BofA mantém recomendação neutra e reduziu o preço-alvo de R$ 42 para R$ 37, à medida que cortou o Ebitda estimado para 2024 em 9% para considerar um primeiro trimestre (1T24) mais fraco, e em 2025 em 6% devido aos preços mais altos do trigo.
A equipe de research do banco prevê um momento sólido nos próximos trimestres, já que os custos dos estoques de trigo são baixos e os preços de venda estão em alta. Por outro lado, as margens devem atingir o pico este ano.
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Além disso, os volumes da M Dias estão lutando, sem crescimento desde 2016, devido a um desempenho fraco da categoria e perda de participação. “A gestão está focada em recuperar participação, o que pode mudar a dinâmica das margens, e limitar ainda mais o repasse de preços mais altos do trigo”, destacam analistas. Esses riscos parecem precificados, já que a ação desvalorizou de 9 vezes Valor da Firma (EV)/Ebitda para 6 a 6,5 vezes.