O Open Finance, ecossistema de compartilhamento de dados, atingiu 27,7 milhões de consentimentos únicos — ou seja, CPFs — em 2023, o correspondente a 15% da população bancarizada do Brasil, aponta relatório anual do Open Finance, divulgado nesta sexta-feira (7). Para se ter uma ideia, o Open Finance no Reino Unido, um dos primeiros países a operar o sistema no mundo, atinge 13% da população com alguma conta em banco.
E não para por aí: no ano passado, o número de chamadas de APIs (quando uma instituição pede acesso a dados de outra, a partir do consentimento do usuário) chegou a 51,7 bilhões no Brasil para a fase 2 (de compartilhamento de dados cadastrais) — o número é quatro vezes maior que o observado no Reino Unido.
“As instituições estão ofertando, aos poucos, mais casos de uso: já vimos portabilidade de crédito, ampliação da oferta de crédito com mais precisão, redução no tempo de abertura de contas, juros evitados com alertas para cheque especial, entre outras soluções que utilizam a infraestrutura do Open Finance”, afirma Carlos Jorge, secretário-geral de Open Finance no Brasil, em entrevista exclusiva ao InfoMoney. “Ainda dá para avançar muito e queremos melhorar performance e eficiência em 2024”, diz.
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Na esteira de melhorias, André Olinto, secretário responsável pela Camada Administrativa do Open Finance Brasil, ressalta que o Open Finance, para obter êxito, depende de seus agentes participantes. “Todo o ecossistema depende das instituições e suas iniciativas, além dos clientes utilizando as soluções ofertadas. É um processo e estamos no caminho”, disse. A expectativa é de que o amadurecimento do Open Finance caminhe de maneira mais ponderada ao longo dos anos, diferentemente da chegada do Pix.
Na visão de Élcio Calefi, diretor de tecnologia e operações do Open Finance Brasil, as instituições deverão apostar mais no Open Finance pelo diferencial competitivo. Com o aumento no compartilhamento de dados, as empresas vão tendo mais informações para desenvolver novas iniciativas. O desafio vem sendo justamente o de fazer o dado compartilhado pelo consumidor virar solução.
Desde o ano passado, a padronização de dados na troca de informação entre as instituições vem sendo uma “dor” para parte dos participantes. “Passamos por várias etapas. Conseguimos colocar a estrutura de pé, fazer a interconexão e os dados já trafegam de um lado para o outro com sucesso. Agora, queremos cada vez mais garantir que eles tenham qualidade”, afirma Jorge.
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Calefi acrescenta que a troca de informação é complexa e a melhora nessa seara depende também do amadurecimento das empresas. “Cada uma tem sua estratégia sobre como utilizar os dados e seu grau de amadurecimento em como ofertar ao seu cliente uma solução. Mas a verdade é que já evoluímos. A partir deste ano estamos mensurando a qualidade do dado de quem exporta, através de soluções de tecnologia que desenvolvemos”, afirma. Segundo ele, é provável que os resultados sejam compartilhados no relatório do próximo ano.
Na mesma linha, todo o processo de chamadas de APIs pode também ficar mais eficiente, o que, na prática, pode significar uma redução nos bilhões registrados em 2023. “Um banco A pede atualização de saldo do banco B depois da autorização do cliente. Hoje, o banco A atualiza essa informação a cada intervalo de tempo que o cliente está em seu app, por exemplo, a cada 5 minutos. Precisa fazer isso com essa frequência? Se atualizar esse saldo duas vezes por dia já não é o suficiente? Provavelmente ele não varia em intervalos tão pequenos. Fazer menos chamadas também pode aumentar a eficiência, agilizando o que aparece em tela e melhorando a jornada do cliente. Estamos vendo alguns casos nessa direção”, afirma Calefi.
Segurança
A segurança do ecossistema é outro objetivo que vem sendo perseguido. Os representantes da governança têm orgulho da estrutura que até o momento não sofreu nenhum tipo de problema com ataques e/ou vazamentos de dados. “Optamos por desenvolver uma estrutura em nuvem, que não carrega a informação do cliente. Cada instituição faz essa guarda e compartilha as informações seguindo os padrões. Assim, o próprio design ajuda a evitar ataques: o que o hacker vai conseguir pegar?”, afirma Jorge.
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“No pior cenário, seria possível interromper o serviço, mas não seria possível capturar informações”, complementa Olinto.
Calefi acrescenta que os elos de segurança do sistema financeiro brasileiro já eram sólidos, o que ajudou na estruturação do Open Finance. “Trouxemos toda a segurança que já existia e adicionamos camadas extras que permitem o compartilhamento de dados e transações. E, com esse sistema em nuvem, tudo fica distribuído. Assim conseguimos construir um sistema que não é propenso a receber ataques”, afirma.
Além disso, há dois grupos técnicos focados em segurança: um para padrões técnicos e outro exclusivo para fraudes. Sobre casos de engenharia social, Olinto ressalta que é um trabalho constante. “O esforço continua diariamente para que haja comunicação e mitigação de eventuais golpes e riscos atrelados ao ecossistema”.
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Investimento sobe 53% em 2023
O relatório anual traz um recorte sobre os investimentos financeiros feitos em todo o ecossistema de Open Finance no Brasil. No total, foram R$ 95 milhões em 2023, alta de 53% na comparação com 2022 e 55% a mais que em 2021. De 2020 até 2023, foram R$ 219 milhões aplicados por todos os participantes no ecossistema. Desse total, cerca de 70% foi direcionado ao desenvolvimento da infraestrutura tecnológica e da segurança cibernética.
Veja a divisão total:
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Considerando apenas os R$ 95 milhões de 2023, Jorge destaca que o foco foi em aumento de profissionais que trabalham no ecossistema. “Toda a estrutura de governança foi inicialmente montada com pessoas que foram cedidas pelas instituições participantes. Elas dividiam o tempo. Em 2023, começamos a ampliar o número de profissionais, já pensando na estrutura definitiva do Open Finance no Brasil”. Essa estrutura será uma empresa independente fiscalizada pelo Banco Central e que será montada a partir de instruções normativas — ainda sem data prevista.
A primeira equipe que começou a ser composta foi a de tecnologia: em dezembro de 2022, eram três profissionais. No final de 2023, 23 pessoas.
Além do esforço humano, a estrutura vem investindo alto também em novas soluções de monitoramento do Open Finance. “Estamos desenvolvendo um monitoramento da jornada de experiência, da qualidade de dados, dos padrões técnicos, da execução de conformidade. É uma agenda qualitativa que começou a ser refletida em 2023. Com mais informações poderemos avançar de forma mais assertiva”, avalia Élcio Calefi, diretor de tecnologia e operações do Open Finance Brasil.
A instrução normativa 441 do Banco Central, publicada no final de 2023, impulsiona essa agenda: o BC vai fiscalizar e monitorar o comportamento das instituições participantes com a possibilidade de penalização, se o manual de regras do Open Finance não for cumprido. O BC já tinha esse papel mais fiscalizador, mas atuava de forma mais branda até então. A instrução normativa foi um alerta para que todas as 946 instituições operem nos padrões do ecossistema. Por enquanto, resta observar o que 2024 reserva de evolução.
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