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Nigéria enfrenta sua pior crise econômica em uma geração

A Nigéria enfrenta sua pior crise econômica em décadas, marcada por uma inflação desenfreada, pela forte desvalorização da moeda nacional e por milhões de pessoas lutando até para comprar alimentos. A maior economia da África há apenas dois anos, a Nigéria deverá cair para a quarta colocação este ano.

O sofrimento é generalizado. Os sindicatos estão em greve para protestar contra os salários de aproximadamente US$ 20 por mês. Pessoas morrem pisoteadas em meio ao desespero para receber doações de sacos de arroz. Os hospitais estão lotados de mulheres que sofrem de espasmos causados por deficiência de cálcio.

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Acredita-se que a crise tenha suas raízes em duas grandes mudanças implementadas por um presidente eleito há 15 meses: a eliminação parcial dos subsídios aos combustíveis e a flutuação da moeda, que, juntas, provocaram grandes aumentos de preços.

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Salisu Garba, agente comunitário de saúde, atende pacientes no Hospital Especializado Murtala Muhammed em Kano, a segunda maior cidade da Nigéria, em 22 de maio de 2024. As pessoas no país mais populoso da África estão sofrendo com a disparada do preço dos alimentos, combustíveis e remédios. alcançar muitos. (Taiwo Aina/The New York Times)

Nesta nação de empreendedores, os mais de 200 milhões de cidadãos nigerianos têm habilidade para sobreviver em circunstâncias difíceis, mesmo sem serviços que são normalmente prestados pelo estado. Eles produzem sua própria eletricidade e coletam sua própria água. Pegam em armas e defendem suas comunidades quando as forças armadas não conseguem fazer isso. Negociam com sequestradores quando familiares são sequestrados.

No entanto, neste momento, sua engenhosidade está sendo levada ao limite.

Sem dinheiro para leite

Em uma manhã recente, em um canto da maior unidade de atendimento de urgência do norte da Nigéria, três mulheres sofriam dolorosas convulsões decorrentes de espasmos, e não conseguiam falar. Todos os anos, o serviço de urgências do Hospital Especializado Murtala Muhammed, em Kano, a segunda maior cidade da Nigéria, atendia a um ou dois casos de hipocalcemia causada por desnutrição, relatou Salisu Garba, um dedicado profissional de saúde que se deslocava rapidamente de cama em cama, de enfermaria em enfermaria.

Atualmente, com muitas pessoas sem condições sequer para comprar comida, o hospital atende a vários casos do tipo todos os dias.

Garba estava avaliando a situação junto aos maridos das mulheres. A fonte de nutrição que ele recomendava aos maridos dependia do que ele achava que eles conseguiriam pagar: folhas de baobá ou tiririca para os mais pobres e ossos cozidos para aqueles em condições um pouco melhores. Ele riu da sugestão de que qualquer pessoa poderia comprar leite.

Na Nigéria, o país mais populoso da África, mais de 87 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza – a segunda maior população pobre do mundo, depois da Índia, país que é sete vezes maior. E a inflação implacável deve aumentar ainda mais os índices de pobreza neste ano e no próximo, segundo o Banco Mundial.

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Um homem carrega uma mulher que sofre de hipocalcemia, causada por falta de cálcio, para o Hospital Especializado Murtala Muhammed em Kano, a segunda maior cidade da Nigéria, em 22 de maio de 2024. As pessoas no país mais populoso da África estão sofrendo com o preço dos alimentos, combustível e a medicina disparou, ficando fora do alcance de muitos. (Taiwo Aina/The New York Times)

Na semana passada, os sindicatos fecharam hospitais, tribunais, escolas, aeroportos e até o parlamento do país por meio de greves, na tentativa de pressionar o governo a aumentar o salário mensal de US$ 20 pago aos seus trabalhadores mais pobres.

Mas mais de 92% dos nigerianos em idade produtiva estão no setor informal, onde não há salários e nem sindicato para lutar por eles.

Para a família Afolabi, em Ibadan, sudoeste da Nigéria, a queda para a pobreza começou em janeiro devido à perda de um tuk-tuk elétrico que era utilizado como táxi.

Obrigado a vender o táxi para pagar as contas hospitalares de sua mulher após o difícil parto de seu segundo filho, Babatunde Afolabi passou a fazer bicos na construção. Pagava mal, mas a família dava um jeito de superar a difícil situação.

“Nem imaginávamos a possibilidade de passar fome”, disse.

Mas daí o preço da mandioca – o alimento mais barato em muitas partes da Nigéria – triplicou, comentou.

Tudo o que consegue pagar agora são alguns biscoitos, um pouco de pão e, para o filho de seis anos, vinte amendoins por dia.

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Um país construído a gás

Apesar de ser um grande produtor de petróleo, a Nigéria é fortemente dependente de derivados de petróleo importados. Depois de anos de subinvestimentos e má gestão, suas refinarias estatais quase não produzem gasolina.

Há décadas, o zumbido dos pequenos geradores compõe a trilha sonora nacional, sendo acionados durante as frequentes interrupções no fornecimento de energia elétrica. Os derivados de petróleo são utilizados para transportar mercadorias e pessoas por todo o país.

Até recentemente, o governo subsidiava o petróleo, gastando bilhões de dólares por ano para esse fim.

Muitos nigerianos afirmaram que o subsídio era a única contribuição útil de um governo negligente e predatório. Sucessivos presidentes se comprometeram a eliminar o subsídio, o qual drena uma grande parte das receitas do governo, mas recuaram posteriormente por temer distúrbios em massa.

Eleito presidente da Nigéria no ano passado, Bola Tinubu inicialmente avançou com a eliminação do subsídio.

“Era uma ação necessária para o meu país não ir à falência”, disse Tinubu em Abril, em uma reunião do Fórum Econômico Mundial realizada na Arábia Saudita.

Em vez disso, muitos nigerianos estão indo à falência ou trabalhando em vários empregos para se manterem à tona.

Garba era de classe média, embora 17 membros da família, incluindo 12 crianças, dependessem dele.

Depois de trabalhar seus turnos no hospital, onde está montando o primeiro serviço de ambulância do estado, além de trabalhar no pronto-socorro, atividade pela qual recebe US$ 150 por mês, ele se dirige à Cruz Vermelha. Lá, ele ocasionalmente recebe uma bolsa de voluntariado no valor de US$ 3,30 por ajudar a combater um grave surto de difteria.
À noite, ele trabalha na farmácia que ele e um colega montaram. Mas poucas pessoas ainda têm dinheiro para comprar remédios. Ele comercializa cerca de US$ 7 em medicamentos por dia.

Ano passado, depois do corte dos subsídios à gasolina, Garba vendeu seu carro. Agora ele vai para o trabalho de tuk-tuk. Impossibilitado de alimentar o gerador, ele lê os rótulos dos medicamentos na farmácia à luz de uma pequena lanterna solar. Ele consegue comprar apenas pequenas quantidades de arroz e mandioca.

No governo anterior, a vida era muito cara, mas nada como hoje, analisou.

“Está muito, muito ruim”, disse.

Pedidos de ajuda

Em grande parte da Nigéria, é comum compartilhar com os vizinhos e dar esmolas aos pobres.

Todos os dias, as pessoas chegam ao portão da rádio Freedom, em Kano, para deixar apelos sinceros por ajuda para pagar contas médicas, taxas escolares, ou para se recuperar de algum desastre.

Um locutor da rádio seleciona três desses pedidos para ler diariamente, e frequentemente um ouvinte solidário liga para pagar a conta do solicitante.

Mas, nos últimos tempos, os apelos se multiplicaram e as ofertas de ajuda secaram.

Bons samaritanos costumavam ir ao pronto-socorro e pagar contas de estranhos, lembra Garba. Isso também é raro agora.

Segundo Garba, mesmo assim o número de pacientes que chegam ao seu hospital caiu quase pela metade nos últimos meses.

Muitos dos doentes sequer conseguem chegar lá. Eles não têm como pagar a passagem de ônibus que custa 20 centavos.

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