O México realiza no próximo dia 2 de junho aquela que é considerada a maior eleição de sua história. Além de estar perto de eleger a primeira presidente mulher a ocupar o Palácio Nacional – a ex-prefeita da Cidade do México, Claudia Sheinbaum, e a ex-senadora Xóchitl Gálvez lideram as pesquisas – há mais de 20 mil cargos em disputa, incluindo alguns importantes governos estaduais.
Conforme destacou recentemente o Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica (Celag), o que está em jogo hoje é a manutenção e talvez até a ampliação do bloco hegemônico do partido Morena, liderado pelo presidente Andrés Manuel López Obrador, conhecido popularmente como AMLO.
Além da vantagem que as pesquisa dão a Claudia Sheinbaum, sua candidata, o Morena governa atualmente 20% dos municípios, 66% dos Estados e tem maioria em deputados e senadores.
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Em levantamentos sobre popularidade, AMLO tem oscilado entre altos 58% a 65% nos níveis de aprovação. Muito disso está ligado à forma pragmática de governar, pela qual continua a manter boas relações comerciais e econômicas com os Estados Unidos, sem deixar de lado convicções humanistas e o investimento em políticas sociais. Um desafio interno, no entanto, continua a ser a violência praticada pelos cartéis de narcotráfico.
O InfoMoney traz abaixo alguns detalhes sobre a eleição de um dos principais países da América Latina:
O que está em disputa?
Conforme dados do Instituto Nacional Eleitoral (INE), os mexicanos vão escolher o presidente, 128 senadores e 500 deputados, além de sete governadores (dos estados de Chiapas, Cidade do México, Guanajuato, Jalisco, Morelos, Puebla e Yucatán). No total, estão em disputa mais de 20 mil cargos na administração pública, incluindo os representantes dos congressos locais e prefeitos. Quase 98 milhões de pessoas estão aptas a votar, o que representa um aumento de 9 milhões de cidadãos face às últimas eleições de 2018. Dois terços dos deputados são definidos pelo princípio da maioria relativa dos votos e o restante pelo critério de proporcionalidade. No senado, 50% são pela maioria, 25% por proporcionalidade e 25% para a primeira minoria (referente ao partido que tenha o segundo lugar em número de votos).
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Quem são os candidatos à presidência?
A líder nas pesquisas é Claudia Sheinbaum, da coalizão governista Vamos Continuar Fazendo História – com Morena, o Partido Verde e o Partido Trabalhista. A candidata que tem aparecido na segunda posição nos levantamentos de intenção de votos é Xóchitl Gálvez, da coligação de oposição Força e Coração pelo México – formada pelos partidos PRD, PRI e PAN – de centro-esquerda, centro-direita e direita. O outro concorrente é o ex-deputado Jorge Álvarez Máynez, um político pouco conhecido do Movimento Cidadão.
O que dizem as pesquisas?
O agregador de pesquisas Polls.mx projeta a candidata do Morena como eventual vencedora, uma vez que aparece com uma vantagem superior a 20 pontos percentuais: Claudia Sheinbaum teria 58% das intenções de voto, seguida por Xóchitl Gálvez, com 31%, por Jorge Alvarez Máynez, com 10%. No entanto, Marco Oviedo, estrategista sênior para a América Latina da XP, alertou em relatório recente que as projeções são inconsistentes com a tendência observadas nas recentes eleições. Em 2018, quando o movimento AMLO-Morena estava no auge, o Morena obteve 53% dos votos efetivos, seguido por 39% dos votos agregados do PAN e PRI, que tinham dois candidatos diferentes. Nas eleições intercalares de 2021, o partido governista e seus aliados tiveram 50% dos votos efetivos enquanto a oposição teve 40%. Por fim, nas eleições municipais de 2022-2023, em 8 eleições para governador, em média, Morena obteve 47,2% dos votos e PRI-PAN-PRD tiveram 42%. “Claramente, há uma tendência de deterioração do apoio ao Morena e de recuperação gradual da oposição”, analisou Oviedo.
Quem é a favorita?
Claudia Sheinbaum nasceu na Cidade do México em 1962. Iniciou sua carreira política como ativista estudantil na UNAM, onde ele estudou Física obteve doutorado em Energia, seguida de uma residência na Universidade de Berkeley, na Califórnia. No poder público, ela foi secretária do Meio Ambiente, chefe delegada em Tlalpan e, em 2018, se tornou a primeira chefe do governo eleito na Cidade do México. Formada em Física, tem mestrado em Engenharia Energética e doutorado em Engenharia e Energia, todos pela Universidade Nacional Autônoma do México. É autora de mais de 100 publicações especializadas e dois livros com temas como energia, meio ambiente e desenvolvimento sustentável.
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Como está a economia do México?
Segundo dados da OCDE, espera-se um crescimento econômico de 2,5% para o México em 2024 e de 2,1% em 2025. Embora estes números pareçam positivos, podem não ser suficientes para o que o país necessita. Estima-se que o crescimento que o país precise para poder proporcionar bem-estar à sua população seja, em média, de 4,5% do produto interno bruto (PIB) ano após ano. Um estudo da Ernst&Young diz que o país tem diversos desafios estruturais que precisam ser enfrentados, tais como a produtividade relativamente baixa, um infraestrutura ainda precárias e lacunas no talento técnico profissional. Além disso, o México terá de enfrentar a necessidade de uma melhor relação entre impostos e PIB. Segundo a OCDE, o país tem a menor relação impostos-PIB entre os países membros da organização.
Violência
Um calcanhar de Aquiles não só da atual gestão de AMLO como de seus antecessores é a extrema violência praticada pelos cartéis de narcotraficantes, muitas vezes voltada contra o poder político. Os grupos do crime organizado praticam cada vez mais extorsão e tráfico de drogas. O comércio de opiáceos como o fentanil substituiu nos últimos anos os mercados da marijuana e da heroína vendidas aos Estados Unidos. Embora tenham sido apresentado dados informando queda no ano passado, a taxa de homicídios é muito superior à de há uma década, com 23 mortes por 100 mil pessoas, o que se traduz em mais de 30.500 vítimas em 2023. Desde 2018, mais de 2.600 policiais foram assassinados. Segundo dados recentes do Instituto de Economia e Paz (IEP), os estragos causados por esse quadro custaram ao México em 2023 cerca de 4,9 trilhões de pesos, o que equivale a 19,8% do produto interno bruto (PIB).