in

Estudo mostra “apagão” de dados em capitais do país; SP e BH têm melhores índices

Um estudo inédito, divulgado nesta terça-feira (4) pela Open Knowledge Brasil, mostra que 21 de 26 capitais do Brasil aparecem no nível mais baixo em termos de abertura de dados aos cidadãos e publicação de informações sobre políticas públicas.

O Índice de Dados Abertos para Cidades (ODI Cidades) 2023, que retrata o estado da abertura de dados em nível municipal em todo o Brasil, é um instrumento de avaliação independente sobre a publicação de dados abertos governamentais − considerados fundamentais para a consolidação do processo democrático.

Baixe uma lista de 11 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de crescimento para os próximos meses e anos

Continua depois da publicidade

Ainda que essa disponibilização das informações não seja obrigatória pela legislação, sua publicação por parte de órgãos públicos permite à sociedade avaliar políticas públicas, defender direitos fundamentais e participar mais ativamente dos processos decisórios.

Como funciona o índice

O ODI Cidades 2023 avalia 111 conjuntos de dados em 14 áreas de políticas públicas de 26 capitais brasileiras. Entre essas áreas, estão administração, saúde, educação, finanças públicas, meio ambiente e infraestrutura urbana.

A pesquisa conta também com um 15º eixo que avalia instrumentos específicos da própria governança de dados.

Continua depois da publicidade

A pontuação do índice é apresentada em uma escala que varia de 0% a 100%, classificada em cinco níveis de abertura:

  • Opaco (0% a 20%);
  • Baixo (21% a 40%);
  • Médio (41% a 60%);
  • Bom (61% a 80%);
  • Alto (81% a 100%);

Metodologia

Na pesquisa, foram avaliados 6 grupos de indicadores:

Eles foram aplicados a 14 temas, relacionados a grandes áreas de políticas públicas:

Continua depois da publicidade

  • Administração pública;
  • Assistência social;
  • Cultura
  • Educação, esporte e lazer;
  • Finanças públicas;
  • Ordenamento territorial e uso do solo;

Entre as questões que compuseram o estudo, estão:

  • Os dados estão disponíveis online, de forma gratuita e sem necessidade de solicitar acesso?
  • O conjunto de dados fornece metadados?
  • O conjunto de dados está em formato de arquivo não-proprietário e processável por máquina?
  • O conjunto de dados está atualizado de acordo com a periodicidade declarada?

A 15ª temática analisada foi a governança de dados, para a qual foram analisados indicadores específicos referentes a instrumentos de gestão e planejamento.

As capitais do país foram consultadas para o levantamento de algumas informações em junho de 2023 e, em dezembro do ano passado, todas receberam uma prévia dos resultados.

Continua depois da publicidade

Cenário “preocupante”

De acordo com Danielle Bello, coordenadora de Advocacy e Pesquisa da Open Knowledge Brasil, o desempenho geral das capitais do país deixa bastante a desejar em relação à abertura de dados.

Em linhas gerais, os resultados apontam um cenário geral de baixa disponibilidade e qualidade de dados abertos em todo o país. A maioria das capitais não publica nenhum conjunto de dados básicos em todas as áreas de políticas públicas avaliadas.

Segundo o levantamento, 21 capitais aparecem classificadas no nível mais baixo do índice, o opaco. Outras 3 estão situadas no nível baixo, totalizando 24 das 26 capitais nos piores patamares de classificação.

Continua depois da publicidade

“É um contexto preocupante, que nos faz questionar: se a situação naquelas que estão entre as maiores cidades do país é esta, como é o cenário em outros municípios do Brasil?”, indaga Danielle.

São Paulo e BH são as mais bem avaliadas

As cidades de São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG) pontuam como as mais bem classificadas no índice. Mesmo assim, nenhuma delas atingiu 50% de pontuação: 48% e 47%, respectivamente, o que significa um nível médio.

Enquanto São Paulo tem a maior quantidade de dados publicados, Belo Horizonte apresenta maior qualidade no levantamento. Entre os principais destaques da capital paulista, aparecem áreas como educação (75%) e finanças públicas (78%).

A capital de Minas Gerais, por sua vez, se destaca em infraestrutura urbana, com 84% – nível classificado como alto e a maior pontuação alcançada por uma capital em todo o Índice. Já na área de assistência e desenvolvimento social, Belo Horizonte atinge 76%, nível considerado bom.

Carência de dados sobre meio ambiente

A pesquisa da Open Knowledge Brasil mostra que dados sobre administração e finanças públicas são os mais disponíveis nas capitais brasileiras. Ainda assim, a qualidade das informações ainda está longe da ideal.

Setores como educação, meio ambiente e habitação, considerados cruciais no debate público, vivem quase um “apagão” total.

Em meio à importância cada vez maior da sustentabilidade e da preservação do meio ambiente, como mostra a tragédia climática que já matou mais de 170 pessoas no Rio Grande do Sul desde o fim de abril, faltam dados abertos a respeito de temas como arborização, processos de licenciamento e fiscalização, recursos hídricos e resíduos sólidos.

Ano eleitoral

Para Danielle Bello, o lançamento do índice em 2024, ano de eleições municipais em todo o Brasil, ajuda na discussão sobre propostas dos governos para áreas estratégicas e construção de políticas públicas efetivas nos municípios.

“A expectativa é alimentar uma discussão propositiva sobre projetos para as cidades que se dê a partir de dados, que são a base de políticas públicas mais responsivas, da participação social e da construção de um debate público qualificado”, diz Danielle.

“Os dados abertos são uma ferramenta indispensável para a imprensa ou para qualquer pessoa ou organização que queira confirmar a veracidade de uma informação”, afirma.

Necessidade de maior abertura

A coordenadora de Advocacy e Pesquisa da Open Knowledge Brasil entende que o Índice de Dados Abertos para Cidades (ODI Cidades) colabora com o debate sobre a importância de dar publicidade aos dados e fornece subsídios para que os municípios publiquem essas informações de forma mais frequente e transparente.

Na prática, segundo Danielle Bello, o índice apresenta diretrizes para avaliar e abrir dados em nível local a partir de princípios e padrões reconhecidos internacionalmente – que se refletem, por exemplo, na Lei de Acesso à Informação e na Política de Dados Abertos do Executivo Federal.

“O ODI Cidades é um instrumento de empoderamento da sociedade civil e incentivo à colaboração entre governo e sociedade. Não estamos fazendo apenas uma avaliação; construímos uma ferramenta de análise comparativa que nos permite identificar e mensurar gargalos, potencialidades e entender em que precisamos trabalhar para avançar”, avalia Danielle.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

quando os gaúchos voltarão a ter mobilidade em ruas e estradas?

Privatização da Sabesp terá oferta 100% secundária e cláusula de não-concorrência