Em pronunciamento durante o segmento de engajamento externo da Cúpula do G7, na Itália, nesta sexta-feira (14), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a defender o fim dos conflitos na Faixa de Gaza e entre Rússia e Ucrânia.
Em seu discurso, Lula voltou a criticar a resposta militar do governo israelense do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu aos ataques perpetrados pelo grupo terrorista Hamas, em outubro do ano passado.
“As instituições de governança estão inoperantes diante da realidade geopolítica atual e perpetuam privilégios. O ano de 2023 viu o gasto com armamentos subir em relação a 2022, chegando a US$ 2,4 trilhões”, criticou Lula, antes de mencionar, especificamente, o conflito entre Israel e o Hamas.
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“Em Gaza, vemos o legítimo direito de defesa se transformar em direito de vingança. Estamos diante da violação cotidiana do direito humanitário, que tem vitimado milhares de civis inocentes, sobretudo mulheres e crianças. Isso nos levou a endossar a decisão da África do Sul de acionar a Corte Internacional de Justiça”, afirmou o presidente brasileiro.
Em fevereiro, Lula subiu o tom contra o governo Netanyahu e comparou os ataques na Faixa de Gaza à barbárie praticada pela Alemanha nazista de Adolf Hitler contra o povo judeu durante a Segunda Guerra Mundial.
Recentemente, Lula reforçou as críticas e disse que as ações do governo israelense em Gaza configuram um “genocídio”.
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A resposta não demorou. Netanyahu disse que Lula “cruzou uma linha vermelha” e que a declaração era “vergonhosa e grave”. Na sequência, o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, afirmou que o presidente brasileiro havia se tornado “persona non grata em Israel até que retire o que disse”. Dias depois, o chanceler chamou a comparação de Lula de “promíscua” e “delirante” e questionou: “Como ousa comparar Israel a Hitler?”.
Lula não se retratou, e o governo brasileiro decidiu chamar para consultas o então embaixador em Israel, Frederico Meyer, e ao mesmo tempo convocar o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine, para dar explicações. Além disso, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, criticou a postura do seu colega israelense. No fim de maio, Lula confirmou a retirada definitiva do embaixador do Brasil de Israel.
No discurso no G7, reiterou, ainda, que “o Brasil condenou de maneira firme a invasão da Ucrânia pela Rússia”. “Já está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar”, disse.
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“Somente uma conferência internacional que seja reconhecida pelas partes, nos moldes da proposta de Brasil e China, viabilizará a paz”, completou.
Tributação dos super-ricos
Em seu pronunciamento no G7, Lula voltou a defender a proposta de taxação global dos super-ricos, ideia que já havia sido encampada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), em recente encontro do G20 e em reunião com o papa Francisco, no Vaticano.
“É nesse contexto de combate às desigualdades que se insere a proposta de tributação internacional justa e progressiva que o Brasil defende no G20”, afirmou Lula.
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“Já passou da hora de os super-ricos pagarem sua justa contribuição em impostos. Essa concentração excessiva de poder e renda representa um risco à democracia.”
Inteligência artificial
Outro tema abordado por Lula em seu discurso na reunião do G7 foi o avanço da inteligência artificial (IA) em todo o mundo.
Segundo o presidente da República, é necessária “uma governança internacional e intergovernamental da inteligência artificial, em que todos os Estados tenham assento”.
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“Na área digital, vivenciamos concentração sem precedentes nas mãos de um pequeno número de pessoas e de empresas, sediadas em um número ainda menor de países”, observou Lula.
“A inteligência artificial acentua esse cenário de oportunidades, riscos e assimetrias. Seus benefícios devem ser compartilhados por todos. Interessa-nos uma IA segura, transparente e emancipadora. Que respeite os direitos humanos, proteja dados pessoais e promova a integridade da informação. Que potencialize as capacidades dos Estados de adotarem políticas públicas para o meio ambiente e que contribua para a transição energética. Uma IA que também tenha a cara do Sul Global, que fortaleça a diversidade cultural e linguística e que desenvolva a economia digital de nossos países. E, sobretudo, uma IA como ferramenta para a paz, não para a guerra”, concluiu.
Mudanças climáticas
Ainda segundo o presidente brasileiro, “conduzir uma revolução digital inclusiva e enfrentar a mudança do clima são dilemas existenciais do nosso tempo”.
“Na última reunião similar de que participei na Itália, na Cúpula de L´Áquila, em 2009, enfrentávamos uma crise financeira global que expôs os equívocos do neoliberalismo. Hoje, o Brasil preside o G20 num contexto de múltiplos e novos desafios”, disse Lula.
“Precisamos lidar com essa dupla transição tendo como foco a dignidade humana, a saúde do planeta e um senso de responsabilidade com as futuras gerações.”