Uma semana depois de o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter sofrido um verdadeiro “atropelamento” em votações no Congresso Nacional, o senador Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado, rechaçou a tese de que a atual administração tenha sido fragorosamente derrotada pela oposição.
Na terça-feira da semana passada, em sessão conjunta do Parlamento, deputados e senadores analisaram uma série de vetos de Lula – e derrubaram grande parte deles. O item mais sensível da pauta era o veto a um trecho da lei que colocava fim às saídas temporárias de presos para visitar familiares e participar de atividades que contribuam para o convívio social. O Congresso já havia acabado com as chamadas “saidinhas”, mas Lula retomou o instrumento, vetando parte da legislação.
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Apesar do esforço do governo, inclusive com a participação direta de alguns ministros e integrantes do primeiro escalão, o veto foi derrubado, em uma vitória da oposição – formada, em sua maioria, por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que sempre defenderam o fim das “saidinhas”.
Para piorar o cenário para o governo, Bolsonaro teve outra importante vitória política no Congresso, com a manutenção do veto do ex-presidente à tipificação de crimes contra o Estado Democrático de Direito – entre os quais a criminalização das fake news nas eleições.
“Não tem novidade. Vocês continuam achando que a sessão do Congresso foi uma derrota, mas eu considero uma vitória. Nós não perdemos nada do essencial sobre finanças, mantivemos a Lei de Diretrizes Orçamentárias [LDO]. Perdemos em temas de costumes e hábitos que rendem na disputa de redes sociais”, minimizou Jaques Wagner, em entrevista ao jornal O Globo. “Ali foi uma questão de opinião. No que é programa de governo, não perdemos nada. É óbvio que ele queria que mantivesse, porque era uma convicção”, completou o senador.
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Lula à frente da articulação
Durante a entrevista, o líder do governo no Senado foi questionado sobre a necessidade de o próprio Lula tomar a frente das negociações com o Legislativo e participar mais ativamente das conversas com parlamentares.
“O sistema é presidencialista. É a figura dele que puxa, sempre foi. As pessoas querem bater foto com o presidente, com o governador, não com o emissário. A presença dele muda a capacidade de articulação”, reconheceu Wagner.
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“Mas tem que dar o tempo. Não posso impor. Ele passou um ano e pouco preso. Não pôde ir ao enterro do irmão, foi ao enterro do neto parecendo que era um traficante de altíssima periculosidade, cheio de gente em volta. Ele viu muita gente comemorar a morte da esposa [Marisa Letícia, ex-primeira-dama, em 2017]. O cara tem alma, não é de ferro”, explicou o senador.
O líder do governo no Senado admitiu, ainda, que “a relação partido-parlamentar não é mais a mesma”. “Os parlamentares se sentem muito mais autônomos, por conta das emendas e do fundo partidário. A gente deve começar a fazer reuniões chamando os ministros de tal partido e as suas bancadas. ‘Cara pálida, e aí? Você está sentado aqui, quantos votos tem o teu partido quando eu preciso?’”, relatou Wagner.
O senador e ex-governador da Bahia afirmou também que, dentro do governo, alguns ministros “são mais afeitos a receber [parlamentares], outro menos”. “Não é favor nenhum ministro receber parlamentar. O sistema democrático. Você tem que aprovar essas coisas aqui e, portanto, atender. Óbvio que o ministro tem uma pauta executiva para tocar, mas eu acho de bom tom separar meio dia na semana para ir desafogando. Não tem ninguém na vida pública que não tem que ser executivo e político. Fora disso, só em outra atividade”, disse.
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Indagado sobre o que estaria faltando na articulação política do governo, Wagner respondeu: “Falta nada, só o tempo”. “A sociedade também tem de dizer que tipo de comando ela quer: o do medo ou o do argumento. Não vou sucumbir ao comando do medo. Não me interessa ganhar nesse mesmo sistema. É uma injustiça falar que a articulação política vai mal. Estamos saindo de uma tormenta, que era o estilo deles [bolsonaristas] de governar”, afirmou.
“Começou o orçamento secreto. Todo mundo sabe disso. O Congresso foi empoderado. Então, vamos para o parlamentarismo. Se vocês querem esse sistema, temos que mudar, porque aí você está empoderado, mas está responsabilizado.”
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Reforma ministerial
Em meio aos rumores de que Lula pode fazer uma reforma ministerial ainda neste ano, provavelmente após as eleições municipais, Jaques Wagner afirmou que se trata de “um critério absolutamente do presidente, que passa por execução daquele ministério e passa, evidentemente, pelas questões da política”.
“Se eu botei alguém lá para representar um grupamento e o grupamento não se sente representado, para mim é um problema. Se eu botei alguém lá que representa o grupamento, mas não realiza nada, é o mesmo problema. A unidade do governo está na figura do presidente da República. É um programa único”, disse. “Não pode ter um programa para cada ministério. Não estou dizendo que tenha, mas tem gente com essa concepção: ‘Ministério tal é meu’. Não é seu, querido. Você foi indicado.”
Na entrevista a O Globo, o líder do governo no Senado também foi indagado se sua relação com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), estaria abalada.
“As pessoas vivem querendo botar uma cunha [rachadura] aí. Não vou botar. Tanto faz se eu gosto mais, se eu gosto menos, se ele gosta mais ou menos. Nós construímos uma história. Não vou jogar fora”, afirmou.
“Cada um tem seu estilo. É óbvio que eu tenho um cacoete mais da política, ele tem mais o da gestão. A pergunta que tem que ser feita é se quem colocou ele lá está gostando. E eu posso dizer que sim”, concluiu Wagner.