O Banco Central passou a mostrar preocupação com as projeções futuras de inflação e o mercado já precifica essa condição. Além disso, o IPCA-15 de maio, com divulgação nesta terça-feira (28), é o primeiro índice a ser apresentado que pode carregar impactos das enchentes no Sul do país.
Caio Megale, economista-chefe da XP, que comandou nesta segunda-feira (27) o Morning Call da XP, também apontou dado importante a ser divulgado nos Estados Unidos e que deve pesar na política monetária do Federal Reserve (Fed).
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Consumo pessoal nos EUA
Na sexta-feira (31), sai o índice de preço de consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês) de abril nos EUA. “É um dos dados mais importantes. É o dado de consumo mensal. Ou seja, quanto as famílias americanas estão ganhando de renda e quando estão gastando no período”, comentou Megale.
“Isso é importante porque mede o consumo, ou seja, a demanda interna. É relevante para o Fed saber se a demanda está forte ou fraca, se vai pressionar a inflação para a frente ou não”, ressaltou.
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Expectativa segue acima da meta
Além do consumo, o economista aponta que o PCE traz o deflator dos gastos com consumo, que é a medida de inflação favorita do Fed.
“O índice de preços ao consumidor (CPI, da sigla em inglês), que é também muito importante, tem uma cesta mais fixa. O PCE mede exatamente o que os americanos estão consumindo”, destacou.
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“Então, o Fed gosta de olhar esse indicador, particularmente o núcleo desse indicador, que tira ali as medidas mais voláteis. A expectativa do mercado é que o núcleo fique em 2,8%, ou seja, ainda perto de 3%, acima da meta de inflação (de 2%) – reforçando, portanto, aquela visão de cautela na condução da política monetária”, afirmou.
Caio Megale lembrou que na semana passada saíram os dados da atividade econômica de vários setores nos Estados Unidos e eles vieram mais fortes do que o esperado, especialmente o de serviços.
“Isso foi suficiente para o mercado tirar a perspectiva de corte de juros mais cedo pelo Fed e voltou a precificar a queda (dos juros) só a partir de dezembro. Então, as curvas (de juros) subiram. Foi uma semana de aversão ao risco, e as moedas também sentiram bastante por conta desse movimento, como o real”, explicou.
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BC preocupado com a inflação
No Brasil, o economista da XP disse no programa que os temas de política fiscal e de política monetária continuam “bastante quentes”. Ele comentou que o Banco Central mostra preocupação com as expectativas de inflação, que continuam subindo.
“Roberto Campos Neto (presidente do BC) tem dado muito foco a isso, mostrando que está preocupado com a desancoragem adicional das expectativas”, ressaltou. “É adicional porque já estava em 3,5%, portanto acima da meta de 3%”, apontou.
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Expectativas acima da meta
O Boletim Focus divulgado nesta segunda apresentou projeções para o IPCA mais altas. De 2024, foi de 3,80% para 3,86%; em 2025, de 3,74% para 3,75%, e 2026, de 3,50% para 3,58%.
“As expectativas estão acima da meta. Nesse contexto, o mercado já está discutindo de se parar de cortar os juros já na próxima reunião (do Copom)”, ressaltou.
Megale já vê também na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) resultado dividido entre seus membros, como ocorreu na última vez que o grupo se reuniu. Ele crê que podem ter votos pela manutenção da taxa Selic em 10,50% e votos por corte de 0,25 pp (ponto percentual). “Aquelas duas visões do Copom devem continuar”, afirmou.
Juros acima de 10% por mais tempo
“Acho difícil alta de juros esse ano. Ficar entre 10,50% e 10,25% parece ser o cenário mais provável. Nesse patamar, dá para ficar um bom tempo e esperar o efeito da inflação, se ela reverte ou volta a cair”, explicou.
“Mas se isso não acontecer, não dá para descartar, pelo menos no ponto de vista técnico, a discussão da alta de juros, embora a gente ache que seja difícil nesse ambiente político conturbado. A gente tem que ver como vai evoluir a inflação, a atividade econômica”, acrescentou.
Nesta terça, o IBGE divulga o IPCA-15 de maio, prévia da inflação do mês. “Os núcleos de inflação devem continuar bem comportados. Precisa ficar de olho se já tem inflação ecoando do Rio Grande do Sul (por conta da tragédia climática no estado). A questão de alimentos pode aparecer nesse dado”, alertou.