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Cenário é benigno para inflação corrente, mas economistas alertam para expectativas

O IPCA-15 de 0,44% em maio, divulgado nesta terça-feira pelo IBGE, reforçou as boas notícias para a inflação corrente, segundo economistas, mas os dados ainda apontam para preocupações com preços de serviços, que continuam em patamar elevado. A projeção ainda é que o Copom realize mais um corte de 0,25 ponto percentual em sua reunião de junho.

Gustavo Sung, economista chefe da Suno Research, por exemplo, destaca que a análise  qualitativo do indicador no mês é positiva, com desaceleração de preços tanto na variação mensal quanto anual, incluindo os serviços subjacentes. Mas ele diz que, embora os serviços intensivos em mão de obra tenham desacelerado na variação mensal, se mantiveram estáveis nos últimos 12 meses.

“A média dos núcleos passou de 3,56% em abril para 3,45% em maio. E, o índice de difusão registrou uma alta marginal”, comenta.

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Os dois pontos que merecem atenção, segundo Sung, são a inflação de alimentos, por conta da tragédia no Rio Grande do Sul, e as expectativas de inflação.

“O IPCA-15 de maio ainda não captou os impactos da tragédia no RS. Apesar da colheita de algumas culturas já ter sido feita, a logística está comprometida, tanto para o escoamento quanto o recebimento de insumos, o que pode pressionar os preços dos alimentos”, alerta.

“Só saberemos real impacto sobre a região após a água abaixar, mas a expectativa inicial é de um impacto de 0,1 p.p. a 0,2 p.p sobre o IPCA de 2024”, calcula.

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Sobre as expectativas, o economista lembra que elas estão desancoradas, por conta de dúvidas em relação à política fiscal brasileira, sobre a credibilidade do Banco Central e especulações a respeito do compromisso da autoridade monetária em atingir a meta de inflação.

Assim, considerando esse contexto, Sung disse esperar que o Banco Central adote uma abordagem cautelosa em suas próximas reuniões, mesmo com o cenário de inflação corrente benigna. “Para o próximo Copom, estimamos um corte de 0,25 p.p. na taxa Selic. No entanto, se houver uma piora no cenário tanto internacional quanto doméstico, o Banco Central pode optar por manter a taxa de juros no atual patamar de 10,50% a.a.”, diz.

Para a XP, as principais surpresas para baixo no IPCA-15 de maio vieram de alimentos e passagens aéreas, componentes muito voláteis, enquanto as surpresas para cima foram mais generalizadas. “Como esperado, a aceleração mensal em relação a abril foi relacionada a itens monitorados, especialmente os reajustes sazonais em produtos farmacêuticos e combustíveis”, diz relatório.

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A XP também acredita que o impacto das chuvas no RS será sentido em maior intensidade quando a coleta de dados se normalizar, especialmente em junho, embora alguns preços de alimentos estejam arrefecendo em outras regiões.

“Ao todo, o IPCA-15 de maio foi mais uma leitura favorável da inflação. Os números de curto prazo permanecem melhores do que os preços de mercado sugerem. O resultado de hoje é consistente com a previsão de 3,7% do IPCA para o ano”, diz o relatório. 

A XP também estima que os dados de hoje mantêm vivas as chances de um corte de 25 p.b. da Selic em junho, embora os mercados atualmente precifiquem nenhum corte como o cenário mais provável.

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Serviços resilientes

Na visão de Claudia Moreno, economista do C6 Bank, os preços tanto bens quanto serviços vieram abaixo do esperado em maio. Mas, no acumulado em 12 meses, fica claro que o que está contribuindo para puxar a inflação para baixo são os bens industriais, que acumulam alta de apenas 0,14% no período, ante uma alta de 5,1% da inflação de serviços.

“A resiliência do setor de serviços pode ser explicada pelo aquecimento do mercado de trabalho. Com o desemprego baixo, os salários são reajustados acima dos ganhos de produtividade, pressionando a inflação de serviços. Essa dinâmica deve continuar à frente”, comenta. 

Para Claudia, o patamar elevado da inflação de serviços é um dos motivos que leva a crer que o Copom promoverá apenas mais um corte de 0,25 ponto percentual na Selic na reunião de junho, encerrando o ciclo de redução de juros. “No entanto, diante da contínua piora das expectativas de inflação, não descartamos a possibilidade de que a taxa fique estacionada em 10,5%, ou seja, que não ocorra mais nenhum corte na taxa básica de juros da economia neste ano.”

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Igor Cadilhac, economista do PicPay, tem uma avaliação parecida. “Os itens mais sensíveis à força da economia e, portanto, relevantes para o Copom, têm oscilado ao redor de 5%. Dito isso, aos olhos dos juros, fica claro que o nosso desafio não é a inflação corrente, mas as expectativas à frente”, avalia.

“Olhando à frente, elevamos a nossa projeção de 3,7% para 3,8%. A revisão reflete, principalmente, os alimentos mais pressionados do que o antecipado anteriormente”, prevê.

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