O arquiteto do Brexit, Nigel Farage, disse que se apresentará como candidato pelo partido Reform UK nas eleições gerais britânicas de 4 de julho, em uma reviravolta que ameaça atrapalhar ainda mais a tentativa de Rishi Sunak de manter o partido Conservador no poder.
“O que realmente estou pedindo – ou o que pretendo liderar – é uma revolta política”, disse Farage nesta segunda-feira (3), no que chamou de “entrevista coletiva de emergência” em Londres. Ele disse que será o candidato do Reform UK em Clacton, cidade costeira no leste da Inglaterra onde os políticos de direita têm historicamente recebido forte apoio.
A entrada repentina de Farage deverá ter repercussões significativas para Sunak, que passou a parte inicial da campanha apresentando promessas destinadas a conter a ida de eleitores conservadores tradicionais para o Reform UK.
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Os Conservadores estão atrás do Partido Trabalhista por mais de 20 pontos, de acordo com um relatório da Bloomberg baseado em dados de 11 empresas de pesquisas, e o desafio de Sunak deve ficar ainda maior com a divisão do eleitorado de direita.
Com Sunak lutando para conseguir votos dentro da direita conservadora, o líder trabalhista Keir Starmer está construindo uma campanha para atrair eleitores mais de centro.
Farage também assumirá a liderança do Reform UK, substituindo Richard Tice, que anunciou a mudança antes de Farage subir ao palco.
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“Esta eleição precisa de um pouco de pimenta”, disse Farage, descrevendo a atual campanha como a “mais monótona” de sua vida.
Embora Farage, de 60 anos, tenha perdido as sete tentativas anteriores para ganhar um assento no Parlamento, ele ainda mantém uma influência considerável na política britânica. Ele manteve Westminster se perguntando durante meses se ele concorreria às eleições, mas quando Sunak convocou repentinamente uma votação antecipada para julho, a medida pareceu pegar Farage desprevenido. Ele disse que o momento não era o certo e que, de qualquer forma, ele estava mais focado em ajudar Donald Trump a retornar à Casa Branca no segundo semestre.
Desde então, os Conservadores têm tentado tirar partido da ausência de Farage, procurando reconquistar os eleitores do Reform UK, inclusive prometendo trazer de volta o alistamento obrigatório para os adolescentes, uma garantia fiscal para os aposentados e um plano para reescrever a Lei da Igualdade, alterando a definição de “sexo” para “sexo biológico”.
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Mas as sondagens não mudaram e o atraso na entrada de Farage é um grande revés. Farage prometeu obter mais de 4 milhões de votos, superando os 3,8 milhões obtidos em 2015 pelo Partido da Independência do Reino Unido (UKIP, na sigla em inglês), que liderava na época. Apesar do volume de votos, o UKIP garantiu apenas um assento naquela eleição – exatamente em Clacton.
Uma pesquisa da Survation em janeiro descobriu que os Conservadores ficariam à frente dos Trabalhistas em Clacton, com o Reform em terceiro. Mas quando os pesquisadores apresentaram Farage como o candidato reformista do Reino Unido, os eleitores disseram que o elegeriam como seu membro do Parlamento, superando o atual conservador, Giles Watling.
A perspectiva de Farage liderar a corrida em Clacton será um pesadelo para os Conservadores, que provavelmente esperavam que o impacto fosse atenuado pelos seus comentários anteriores sobre estar mais incomodado com as eleições presidenciais dos EUA.
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“Decidi mudar de ideia”, disse Farage. “É permitido, você sabe. Nem sempre é um sinal de fraqueza. Poderia ser potencialmente um sinal de força.”
Farage deixou claro que também tem como alvo os Trabalhistas, embora tenha dito que o partido de Starmer reivindicaria a vitória em 4 de julho. “Keir Starmer – sim, ele vai vencer, mas vamos garantir que sua porcentagem seja muito menor do que é agora”, disse ele.
O mais próximo que Farage chegou de ganhar um assento foi nas eleições gerais de 2015, quando obteve 32,4% dos votos em South Thanet, na costa de Kent, terminando a menos de 6 pontos percentuais do vencedor conservador.
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Ele teve mais sucesso nas eleições europeias, servindo como membro do Parlamento Europeu durante mais de 20 anos antes do Brexit – pelo qual há muito tempo fazia campanha – pôr fim à adesão do Reino Unido à União Europeia.
Ele e o ex-primeiro-ministro conservador Boris Johnson foram os dois políticos mais proeminentes que fizeram campanha para deixar o bloco no referendo de 2016.
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