O sindicato global de construtores, Building and Wood Workers’ International (BWI), apresentou uma denúncia à Organização Internacional do Trabalho (OIT) da ONU, nesta quarta-feira (4), acusando a Arábia Saudita de forçar trabalho análogo à escravidão aos profissionais migrantes que atuam no plano Visão 2030 do governo saudita.
A denúncia à OIT afirma que os trabalhadores migrantes que atuam na Arábia Saudita estão sujeitos a uma série de violações dos direitos trabalhistas, como falta de pagamento de salários, confisco de passaportes, taxas de recrutamento ilegais, servidão por dívida e proibição de que os profissionais mudem de emprego.
Em contato com o jornal The Guardian, o secretário-geral do BWI, Ambet Yuson, afirmou que os profissionais migrantes sofrem abusos na Arábia Saudita há anos e nunca receberam compensação por isso. “A Arábia Saudita, onde os sindicatos são proibidos, desrespeita descaradamente as normas internacionais de trabalho”, disse.
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O sindicato internacional, que afirma representar mais de 12 milhões de trabalhadores, pede que a OIT investigue as supostas violações.
Organizações globais de proteção dos direitos humanos, como Human Rights Watch (HRW), a Amnistia Internacional e a FairSquare, apoiam a iniciativa do BWI, segundo o Guardian.
A HRW afirma que “uma queixa de um sindicato global deve ser vista como um alerta para empresas e organizações como a Fifa, que planejam eventos e operações massivas na Arábia Saudita, dadas as claras falhas do governo em proteger os trabalhadores migrantes de empregadores exploradores e abusivos”.
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Caso Fifa
A organização faz menção à provável confirmação da Arábia Saudita como anfitriã da Copa do Mundo de 2034. Embora ainda não seja oficial, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, já confirmou o país como sede, visto que é o único candidato.
Entretanto, a HRW acredita que a denúncia feita pelo sindicato poderá mudar este cenário. “Este é um documento verdadeiramente histórico e pode ser o único obstáculo significativo para a coroação da Arábia Saudita pela Fifa como sede da Copa do Mundo de 2034″, disse Minky Worden, diretora de iniciativas globais da HRW, ao The Guardian.
Em seu comunicado, a organização de direitos humanos lembra o caso do Catar, que foi sede da Copa do Mundo em 2022 mesmo após denúncias de trabalho análogos à escravidão apresentadas em 2014, similares à situação da Arábia Saudita.
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“Muitos trabalhadores migrantes que tornaram possível a Copa do Mundo de 2022 enfrentaram abusos em série, incluindo mortes inexplicáveis e roubo de salários. Os apelos para remediar esses abusos também foram ignorados pela Fifa e pelas autoridades do Catar”, diz o texto.
A HRW considera que a Fifa falhou em aprender com a Copa do Mundo do Catar de 2022, mas espera uma resposta sobre como a federação do futebol avaliará e mitigará os riscos aos direitos trabalhistas dos migrantes na Arábia Saudita, conforme exigido por sua própria política de direitos humanos.
De acordo com as regras de licitação da Fifa para as Copas do Mundo de 2030 e 2034, os países que desejam sediar o torneio devem se comprometer a “respeitar os direitos humanos reconhecidos internacionalmente”.
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A denúncia da BWI inclui uma pesquisa com 193 trabalhadores migrantes que trabalharam ou estão trabalhando na Arábia Saudita. O levantamento constatou que 65% tiveram seus documentos pessoais, como passaportes, apreendidos pelo empregador e 63% não puderam encerrar livremente seu contrato com aviso prévio ou sair depois de expirarem. Além disso, 46% relataram que os empregadores atrasam ou retêm salários para coagi-los a ficar.