Em seu primeiro dia de compromissos oficiais em Roma (Itália), onde participará do workshop “Enfrentando a crise da dívida no Sul Global”, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) disse que levará ao papa Francisco, com quem se reunirá na quarta-feira (5), um “abraço do presidente Lula”.
Haddad concedeu uma entrevista coletiva, nesta terça-feira (4), ao lado do ministro de Finanças da Espanha, Carlos Cuerpo, com quem também esteve reunido.
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O chefe da equipe econômica afirmou que, na conversa com sumo pontífice da Igreja Católica, vai “trazer o abraço do presidente Lula e mantê-lo a par dos propósitos do Brasil”.
Ainda segundo o ministro da Fazenda, a ideia é colocar o governo brasileiro à disposição do papa “para os temas que são tratados pelo Vaticano e dizem respeito ao sentimento dos brasileiros por um mundo mais fraterno, por um mundo de paz, por um mundo de liberdade”. “Será uma viagem muito proveitosa”, completou Haddad.
Taxação dos “super-ricos”
Um dos temas que serão abordados na reunião com o papa Francisco é a taxação global dos chamados “super-ricos” – Haddad pretende angariar apoio do pontífice para a proposta, que é defendida pelo governo do Brasil.
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No fim do ano passado, o Congresso Nacional aprovou o projeto de lei que mudou as regras de tributação para aplicações financeiras mantidas por brasileiros no exterior e instituiu a cobrança do chamado “come-cotas” para fundos exclusivos.
A proposta de taxação internacional levantada pelo Brasil vem sendo discutida no âmbito do G20, grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia e a União Africana.
Países como França, Espanha, Alemanha e África do Sul já sinalizaram apoio ao projeto, por meio do qual os multimilionários teriam de pagar, todos os anos, impostos no valor de pelo menos 2% da sua riqueza total.
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Por outro lado, a proposta brasileira tem encontrado resistência nos Estados Unidos e em alguns países europeus.
Entre os itens da pauta da audiência com o papa Francisco, Haddad tratará, ainda, da crise climática – com atenção especial à tragédia do Rio Grande do Sul – e da crise da dívida dos países do chamado Sul Global.
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Acordo Mercosul-União Europeia
Na entrevista desta terça-feira, Fernando Haddad também voltou a defender o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia (UE) – novela que se arrasta há mais de 20 anos, sem um desfecho.
“Entendemos que precisamos empurrar um final para que isso acabe acontecendo. Já são quase duas décadas de negociação, mas eu creio que há um amadurecimento de parte a parte e que juntos nós poderemos fazer melhor”, disse Haddad.
“Temos economias complementares, temos muito a ganhar nessa parceria”, completou o ministro da Fazenda, dirigindo-se ao colega espanhol.
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Para Haddad, o acordo entre os dois blocos vai além do aspecto econômico e comercial, mas também diz respeito a valores comuns, como a defesa da democracia, que “se encontra em risco em várias partes do mundo”. “É uma aliança que pode animar muito não apenas os negócios, mas as parcerias em todos os âmbitos”, avalia.
Em visita ao Brasil, em março deste ano, o presidente da França, Emmanuel Macron, jogou um balde de água fria no governo e nos empresários brasileiros, que esperavam avanço nas tratativas em torno do acordo com a UE. A França, de Macron, é frontalmente contrária à proposta.
“O acordo com o Mercosul, tal como está sendo negociado atualmente, é um péssimo acordo. Para vocês e para nós. Porque foi negociado há 20 anos. A vida diplomática, a vida dos negócios, mudaram muito. Quando se negocia com uma regra antiga, não é a mesma coisa. É preciso reconstruir [o acordo] pensando no mundo como ele é hoje, levando em consideração a biodiversidade e o clima”, afirmou Macron em discurso na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Costurado desde o fim dos anos 1990, o acordo comercial entre os dois blocos teve sua primeira etapa concluída em 2019, ainda sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – desafeto de Macron. Desde então, os termos passaram à fase de revisão por parte dos países envolvidos, mas pouco se avançou até aqui.
Macron se opõe ao acordo com o Mercosul, principalmente, por questões políticas domésticas. O tratado é visto com ceticismo na França, pois há preocupação com riscos de enfraquecimento do setor agrícola no país. Ainda segundo o governo francês, caso o acordo se concretize nos termos atuais, empresas francesas que seguem leis ambientais mais duras em seu país terão de competir com companhias que não estão submetidas aos mesmos padrões.