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Como Joe Biden pretende impedir que você compre um carro elétrico da China

O presidente Joe Biden quer que cada vez mais carros e caminhonetes norte-americanos sejam movidos a eletricidade, não gasolina. Seu governo avança nesse objetivo em diversas áreas, implementando novas regulamentações rigorosas de emissões automotivas e oferecendo novos subsídios que podem reduzir em até US$ 7.5 mil o custo de um veículo elétrico para os consumidores norte-americanos.

Os assessores de Biden concordam que as vendas de veículos elétricos, que, em média, custam mais de US$ 53 mil nos Estados Unidos, seriam ainda maiores se eles fossem mais acessíveis. Acontece que está surgindo uma nova onda de veículos elétricos bem mais baratos do que os atualmente disponíveis para os clientes nos Estados Unidos e eles estão ficando muito populares na Europa.

No entanto, o presidente e sua equipe não querem que os norte-americanos comprem esses carros baratos, disponíveis por apenas US$ 10 mil em outros locais, pois são fabricados na China. Isso é verdade, mesmo que uma onda de veículos elétricos importados de baixo custo pudesse ajudar a reduzir os preços dos carros em geral, o que potencialmente beneficiaria Biden em sua campanha de reeleição, especialmente em um momento em que a inflação continua sendo a principal preocupação econômica dos eleitores.

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Em vez disso, o presidente está tomando medidas para tornar os veículos elétricos chineses proibitivamente caros, em grande parte para proteger as montadoras dos EUA. No início deste mês, Biden assinou uma ordem executiva que quadruplica as tarifas sobre esses carros, elevando-as para 100%.

Essas tarifas têm o potencial de colocar muitas importações chinesas em grande desvantagem em termos de custos, favorecendo os veículos elétricos fabricados nos Estados Unidos. No entanto, alguns modelos de baixo custo, como o BYD Seagull, ainda poderiam ser mais baratos do que alguns concorrentes americanos, mesmo com a taxação. Esse é um dos motivos pelos quais o senador Sherrod Brown, de Ohio, e outros democratas pediram a Biden que proibisse completamente as importações de veículos elétricos híbridos “plug-in” da China.

O aparente conflito entre as preocupações climáticas e a indústria norte-americana tem preocupado alguns ambientalistas e economistas liberais. Eles argumentam que os Estados Unidos e o mundo ficariam em situação melhor se Biden acolhesse a importação de tecnologias de baixo custo e baixas emissões para combater as mudanças climáticas.
Biden e seus assessores rejeitam essa crítica. Eles argumentam que os esforços do presidente para restringir os carros elétricos e outras importações de tecnologia limpa da China são importantes para combater as práticas comerciais ilegais e prejudiciais que Pequim adota.

E insistem que, em última análise, a abordagem comercial de Biden beneficiará os empregos e a segurança nacional dos EUA, bem como o planeta.
As razões políticas que impulsionam a tentativa de Biden de proteger os produtores norte-americanos da concorrência chinesa são as seguintes.

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Negar a Pequim um novo monopólio

A China já domina a produção de energia limpa em áreas como células solares e baterias. Os assessores de Biden querem impedir que ela conquiste monopólios em indústrias semelhantes, como veículos elétricos, por várias razões, dentre as quais preocupações climáticas. Autoridades do governo afirmam que as fábricas chinesas, que costumam ser energizadas por combustíveis fósseis como o carvão, geram mais emissões de gases de efeito estufa do que as fábricas dos EUA.

Existe também uma razão econômica fundamental para impedir que a China obtenha um monopólio: garantir que os carros e caminhonetes elétricos estejam sempre disponíveis a preços competitivos. A pandemia da COVID-19 expôs a fragilidade das cadeias de abastecimento globais, à medida que produtos críticos como semicondutores se tornaram difíceis de obter da China e de outras nações asiáticas de que os Estados Unidos dependiam. Os preços de eletroeletrônicos e de outros produtos que dependiam de materiais importados dispararam, alimentando a inflação.

Os funcionários de alto escalão de Biden buscam evitar uma situação semelhante para os veículos elétricos. Ali Zaidi, assessor nacional do clima de Biden, afirmou que concentrar o fornecimento de veículos elétricos e outras tecnologias verdes avançadas na China arriscaria “a capacidade coletiva do mundo de ter acesso às tecnologias de que precisamos para ter sucesso em uma economia de energia limpa”.

Reforço da segurança nacional

Assessores de Biden dizem que não estão tentando levar toda a cadeia de abastecimento de veículos elétricos para os Estados Unidos. Por exemplo, estão firmando acordos com aliados para fornecer minerais para baterias avançadas e incentivando países europeus e de outras regiões a subsidiar sua própria produção de tecnologia limpa. No entanto, estão especialmente preocupados com as implicações de segurança de um grande rival como a China dominar esse espaço.

O governo iniciou investigações sobre os riscos de software e hardware de futuros carros inteligentes importados da China, elétricos ou não, que poderiam rastrear as localizações dos norte-americanos e informar isso a Pequim. Economistas liberais também se preocupam com a perspectiva de a China cortar o acesso a novos carros ou componentes-chave deles, para fins estratégicos.

Permitir que a China domine a produção de veículos elétricos traz o risco de repetição dos desafios de longa data da economia e segurança dos carros movidos a gasolina, disse Elizabeth Pancotti, diretora de iniciativas especiais do liberal Roosevelt Institute em Washington, que aplaude os esforços da política industrial de Biden.

Os norte-americanos enfrentam há décadas dificuldades para lidar com decisões de nações produtoras de petróleo, frequentemente hostis, como membros do cartel da OPEP, que reduzem a produção e aumentam os preços da gasolina. A China poderia causar estragos semelhantes no mercado de carros elétricos se conseguisse excluir outras nações do setor, explicou.

Se isso acontecer, “será muito difícil de reverter”.

Biden precisa da transição energética para criar empregos

Não há como negar que a política também exerce grande influência nas decisões de Biden. Colocado de forma simples, ele promete que seu programa climático gerará empregos para trabalhadores de colarinho azul e bem remunerados, incluindo em estados cruciais como a Pensilvânia e o Michigan.

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Biden é um firme defensor do trabalho organizado, e ele está contando com votos sindicais para ajudar a conquistar esses estados. Ele prometeu que a transição energética impulsionará os trabalhadores sindicalizados. Ele aposta que seu apoio às tarifas, que têm como objetivo proteger empregos na indústria dos EUA, diminuirá as críticas dos ambientalistas que querem um progresso mais rápido na redução de emissões.

Biden colocou essas preocupações em primeiro plano ao anunciar sua decisão tarifária na semana passada.

“Em 2000, quando o aço barato vindo da China começou a inundar o mercado, as cidades siderúrgicas dos EUA em toda a Pensilvânia e Ohio foram duramente atingidas”, disse ele na Casa Branca. “Os trabalhadores do aço e das siderurgias na Pensilvânia e no Ohio perderam seus empregos. Não vou deixar que isso aconteça novamente.”

NYT: ©.2024 The New York Times Company

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