Para essa mãe, foi uma grande surpresa ouvir o médico dizer que uma das gêmeas tinha síndrome de Down e a outra não. Ela só soube na hora do parto.
Muitos casais planejam ter apenas um filho pensando em oferecer melhores condições, no que depender das condições financeiras, principalmente levando em conta as despesas com educação.
O que é comum nessas famílias, é os pais constantemente ouvirem o filho (a) pedindo para ter um irmãozinho para brincar. Os avós também incentivam os filhos querendo ter mais netos.
Seguindo esse conceito natural, Raquel Cimi e o marido Daniel, decidiram que estava na hora da filha, Laura, ter um irmão ou irmãzinha.
Quando o casal estava certo de que teriam mais um filho, descobriram que Raquel já estava grávida. A primeira surpresa foi saber que seriam pais de gêmeos.
“Fiquei sem reação, não sabia se ria ou chorava. Eu sempre quis uma gestação gemelar, mas pensei em como eu daria conta”, disse a mamãe.
A família se preparou para a chegada dos bebês ansiosamente, mas um exame realizado quando Raquel estava com 12 semanas, preocupou bastante. As medidas de um dos bebês apresentava alterações, enquanto que o outro estava normal.
Raquel, que é fisioterapeuta, conversou com o marido e decidiram não fazer o exame invasivo. “Decidi não fazer, passei a gestação toda angustiada sem saber o que uma das minhas filhas tinha e só descobri no dia do parto, ao olhar para o rostinho dela”, explicou a mãe e continuou;
“Com 12 semanas, fiz o exame de transluscência nucal e o exame mostrou que estava tudo normal com a Lívia, mas a medida da Luiza estava alterada. Isso indicava que ela tinha alguma síndrome, mas, naquele momento, não dava para saber qual.
Eu entrei em desespero. Sem conseguir acreditar no resultado, fiz mais duas vezes o exame, mas também deram alterados. Passei com um geneticista que me explicou que eu poderia fazer o exame de amniocentese, um procedimento invasivo e mais detalhado que mostraria qual a síndrome da Luiza.
Ele me aconselhou a não fazer pelo risco de aborto e porque, como ele mesmo disse, essa informação não mudaria o percurso da minha história. Eu segui o conselho dele. Não ia colocar a vida delas em perigo. Esperei o nascimento delas para descobrir.
Conviver com essa dúvida na gestação foi torturante. Cada ultrassom era um sofrimento, porque toda vez dava tudo dentro do esperado com a Lívia, e algum tipo de alteração com a Luiza. Isso aumentava a minha angústia de desconhecer o que ela tinha.
Chegou um momento em que eu não queria mais fazer exames nem ir às consultas. Eu não aceitava a ideia de que uma era completamente saudável e a outra não.
Passei minha gravidez deprimida, só chorava, acordava no meio da noite assustada, vivia estressada, não tinha vontade de fazer nada, de arrumar o enxoval, o quartinho.
Meu marido me acalmava dizendo que, independentemente do que acontecesse, ela seria amada.
Eu era fisioterapeuta, atendia crianças com deficiência e comentava que nunca teria capacidade para cuidar de um filho especial. Como qualquer mãe, eu queria ter um bebê saudável, ninguém planeja ter um com alguma doença. Àquela altura meu maior medo era que a Luiza tivesse alguma síndrome que não conseguisse sobreviver, que morresse logo após o nascimento.
Fui para a maternidade, no dia 4 de outubro de 2017, no horário marcado para a minha cesárea. Eu estava extremamente ansiosa. Na hora do parto, a Luiza foi a primeira a nascer, eu pedia desesperadamente para vê-la.
Quando o médico a colocou perto de mim, eu olhei para o rostinho dela e vi que ela era uma bebê perfeita! Sim, ela era perfeita com Síndrome de Down.
Eu comecei a chorar, foi um alívio, senti uma felicidade genuína e um amor incondicional. Quando a Lívia nasceu minha alegria só aumentou. Ela me transmitiu paz e naquele momento pensei: ‘Ela veio com o propósito de cuidar da irmã, ser amiga dela, protegê-la’.
A mãe se afastou da clínica de fisioterapia por um tempo para se dedicar às filhas, sabia que não seria fácil, mas com todo o amor não iria deixar sua filha Luiza, que nasceu com síndrome de Down, viver dentro de uma bolha.
Raquel falou como pensa no futuro para a filha; “Minha missão com as minhas filhas é dar a elas autonomia e independência. Sabemos que o preconceito existe, mas não vamos criar a Luiza em uma bolha, ela vai fazer o que tiver vontade: namorar, estudar, viajar, trabalhar. Terá uma vida normal, dentro das possibilidades dela.”
Fonte: Crianças Especiais